Sofrimento, criatividade e reconstrução do imaginário religioso:
uma análise da obra a Anatomia de uma dor
Palavras-chave:
Luto, Linguagem, Páthos, Teologia, Literatura, Leitura Terapêutica, Escrita TerapêuticaResumo
O presente artigo analisa a obra de C. S. Lewis, A anatomia de uma dor, partindo do pressuposto de que o ser humano, uma vez que se descobre corpóreo e simbólico ao mesmo tempo, revela-se constitutivamente criativo e pode fazer uso dessa criatividade como um meio de superar o sofrimento que também lhe é constitutivo. Ou seja, sua natureza, também simbólica, possibilita o enfrentamento criativo da morte. Nesse sentido, busca-se investigar as transformações da religiosidade na obra em questão — que representa a fase madura do autor — no contraste com o luto e o sofrimento. A anatomia de uma dor, longe de ser uma obra religiosa — é a composição de um escritor que, por coincidência, é religioso —, interpreta as vivências do luto, da dor e do sofrimento desde dentro, a partir da afetação de quem os vivencia. É esse pathos, inclusive, que distingue o relato de outras tentativas de Lewis de explicar o sofrimento, como em sua obra O problema do sofrimento — esta, marcada por respostas cristãs canônicas. Numa abordagem bibliográfica, o artigo analisa, inicialmente, o caráter terapêutico da criatividade, por meio da escrita e da leitura. Em seguida, passa em revista o tema do sofrimento ao longo de seus quatro capítulos, a partir das imagens bíblicas que sugere (imagens do eu-separado; imagens sobre o Ser de H.; imagens sobre Deus (ou o Bem); imagens da idolatria), propondo a reconstrução literário-religiosa que daí deriva.
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